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08/03/2009

DA VIOLÊNCIA NOS DESENHOS ANIMADOS E DA DIFICULDADE DE SE ESCREVER PARA CRIANÇA

Existe um episódio de "Os Simpsons" em que Marjorie toma a frente de uma discussão sobre a violência nos desenhos animados e sua influência no comportamento das crianças. Tudo começou quando o bebê da família mete uma marreta na cabeça de Homer. Quando a mãe se questionou de onde a criança teria aprendido aquele ato de violência, percebeu que a fonte estava em sua própria casa: o desenho que seus filhos assistiam chamado "Comichão e Coçadinha".

Para quem não tem muita intimidade com Os Simpsons, vou resumir: dentro do desenho existe um desenho animado que as crianças de Springfield assistem. Trata-se de um gato e um rato que criam mirabolantes recursos para se destruírem. As gags são breves, violentas e as histórias sem enredo. É uma sátira nefasta sobre boa parte dos desenhos veiculados nas televisões do mundo.

No episódio em questão, Marjorie se posiciona contra a violência dos desenhos que seus filhos assistiam e resolve ir à mídia denunciar e reclamar. Os produtores de "Comichão e Coçadinha" se veem, em certo momento, obrigados a mudarem os enredos. Os próximos desenhos têm nível zero de violência mas, por outro lado, tornam-se absolutamente enfadonhos, piegas e desmotivadores. Com isso, as crianças saem de frente da televisão e voltam-se para os brinquedos de rua e as atividades com seus pares.

Este episódio de "Os Simpsons" termina quando um novo acontecimento surge na cidade: a estátua "Davi", de Michelangelo, será levada a Springfield como parte de uma turnê pelos EUA, mas acaba sendo censurada e lhe vestem uma calça jeans por se tratar de um nu frontal.

No episódio, o que me chamou a atenção, além da problemática do conservadorismo cego dos adultos e da total liberdade que davam às crianças para verem programas violentos, foi uma outra relação. Vamos lá: sim, deve-se retirar os elementos de violência dos programas infantis, dos livros, da vida real. (Existe, claro, uma "violência simbólica" da qual todos tomamos conhecimento desde crianças. É aquela que faz parte dos contos de fadas, por exemplo, e supre a necessidade de a criança entrar em contato "real" com estes elementos. Lembre-se da música "Atirei o pau no gato" e perceberá que nunca viu nenhuma criança que deu uma paulada em um bichano por conta da cantiga; gostaria de comentar essa questão em outro texto). Mas o que me deixou pensativo a partir deste desenho de "Os Simpsons" foi: retiram a violência dos desenhos, mas não colocam um programa de qualidade no lugar. Não houve uma modificação significativa, deixando, na lacuna do tédio, o reforço de que só a violência daria conta de segurar as crianças em frente à televisão, só a violência lhes ofereceria entrenimento e riso.

Não sei se você, leitor, já se deparou com esta situação absolutamente oposta: por um lado, encontramos em nossas TVs programas violentos, sem qualidade de conteúdo e de forma. Por outro, vemos programas desprovidos de motivação ao espectador infantil, falando em uma linguagem moralizadora, doutrinante, infantilóide e didática à criança. Esta, por sua vez, até pode "fingir" estar gostando - muitas vezes para agradar o adulto - mas não aproveita nada do que se pretendeu "ensinar" a ela.

Estas minhas divagações são para mostrar que não é fácil produzir histórias para crianças. Pensar como adulto na hora de escrever, levando junto nossos conceitos e preconceitos, não é o suficiente, não ajuda, não produz. Um texto, um programa de TV, uma música para o público infantil têm de levar em consideração que a criança é um ser com alegrias e angústias, imersa em um mundo confuso e em transformação continuada, influenciada por ele e, de certa forma, influenciadora no mesmo. A época da "criança feliz, feliz a cantar" ficou para trás. A criança de hoje tem a graça da infância - que infelizmente se perde cada vez mais rapidamente -, mas não mais a ingenuidade dos tempos em que não havia internet, TV, rádio... E então?

Um comentário:

  1. Adriano,
    seu artigo me chamou a atenção. É que às vezes, a violência entre as crianças nos assusta tanto que nos perdemos, de fato. E queremos como num passe de mágica retirar do convívio delas, esses programas... O problema você pontuou bem e não são somente as crianças que sofrem desse mal, infelizmente. A quantidade de bobagens oferecida, muitas vezes, é o que se tem acesso com mais facilidade. Leciono para crianças do ensino fundamental I e, encontrar atividades que não deixam as crianças entediadas, realmente é muito, muito difícil.
    Gostei de conhecer o blog e já peguei a ideia da atividade do quebra-cabeças com palitos de picolé RS.
    Prazer,
    Maristela.

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