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27/01/2010

A LIBRE, O LETRAMENTO E A LEITURA SOLIDÁRIA



A LIBRE, O LETRAMENTO E A LEITURA SOLIDÁRIA:
uma reflexão sobre a importância das oficinas literárias
ministradas nos ônibus-biblioteca

Adriano Messias
adrianoescritor@yahoo.com.br

As pessoas costumam pensar a leitura como um ato solitário. Sempre nos imaginamos lendo sozinhos, seja em casa, seja no metrô, seja em uma viagem. E naquele momento em que nos entregamos ao devaneio do autor, acreditamo-nos isolados. Em minha opinião, esta é apenas uma fantasia romântica herdada de uma época em que a leitura era um exercício quase arrogante de uma classe social em ascensão. Em nossos dias, apesar das dificuldades de todas as ordens que ainda enfrentamos na luta por uma educação de qualidade, os livros têm estado cada vez mais presentes entre as classes baixas por meio de programas governamentais, não-governamentais e iniciativas privadas.
Quando ativistas conclamam a justiça social por meio de moradias, de alimentação, de trabalho, deveriam também reivindicar livros, bibliotecas, profissionais do livro e da literatura. E não apenas mais escolas, mas igualmente mais professores capacitados para tornar o processo de leitura realmente significativo na vida dos alunos. Ler, mais do que apenas um passatempo, deveria ser entendido como uma necessidade orgânica no sentido de ser inerente à civilização humana: desde o princípio líamos as estrelas no céu, o olhar da mulher amada, as pegadas do animal na areia, a conjugação das cores das folhas no outono. Somos, desde sempre, sujeitos da linguagem. Nada nos marca mais do que aquela ausência antropológica que nos permitiu representar nossa angústia por meio do signo e, de signo em signo, criamos a linguagem. Sim, o mundo social se fez pelo verbo. E, voltando ao início do parágrafo, nós vamos habitar melhor, nos alimentar melhor e trabalhar melhor se soubermos ler melhor.
Muito se tem feito pela leitura, em especial na área das pesquisas acadêmicas. Podemos dizer mesmo que hoje há tantas formas de se estudar o ato de ler que existe mesmo uma psicologia da leitura, uma antropologia da leitura, uma sociologia da leitura, e por aí vai. Quem quiser se especializar em leitura deve, em meu entendimento, buscar uma das grandes áreas, tamanho o volume de materiais já produzidos.
Na sociedade letrada em que vivemos, a literatura – em meio a outros bens simbólicos - aponta para quem somos. Ela nos diz que somos mais do que meros leitores. Assim, chego a meu contraponto: ler é um ato solitário, como afirmei no início do artigo, mas é também um ato solidário. Eu preciso do Outro para ler e, sobretudo, para compreender (parte do processo de leitura que chamamos de interpretação). Nada mais solidário do que interpretar, afinal, se como sujeitos somos marcados pela intersubjetividade, este saboroso e produtivo “lugar dinâmico” que existe entre Um e Outro, nada mais óbvio do que dizer que, quando lemos, precisamos do Outro. Porém, não apenas do Outro externo e palpável, mas também do(s) Outro(s) interno(s). Somos feitos, à semelhança de uma colcha de retalhos, dos alinhavos de tudo aquilo que disseram que éramos, que nos ensinaram a ser e que acreditáramos seríamos. Isso implica os tantos Outros que passaram por nossas vidas. Sempre me lembro do Cântico XXIV da Cecília Meireles: “Não digas: Este que me deu corpo é meu Pai./ Esta que me deu corpo é minha Mãe./ Muito mais teu Pai e tua Mãe são os que te fizeram/ Em espírito./ E esses foram sem número./ Sem nome./ De todos os tempos.” Quase nunca nos lembramos dos Outros sujeitos que existem nos livros, sejam eles os autores, os personagens, os ilustradores. Por exemplo, quanta coisa apreendemos na orelha de um livro, na capa de uma obra, em um prefácio bem escrito. E como um livro é capaz de transformar alguém a ponto de esta pessoa também se enveredar pela literatura como escolha prazerosa, como atividade que aufere sentido à vida, ou até mesmo como escolha profissional!
Passando por esta introdução, entro no aspecto que queria abordar já no título deste artigo: as práticas de letramento, as quais estão em evidência em nossos dias, e a importância de oficinas literárias para estas práticas. Letramento, até algum tempo, não era um termo muito conhecido; ele foi adaptado do inglês literacy[1], e atualmente é fundamental para entendermos a literatura vinculada às práticas sociais. Para quem não está muito familiarizado com esta palavra, vou explicar de forma muito sucinta: enquanto a ideia clássica de alfabetização lida basicamente com escrever e ler, o letramento vai bem além, preocupado com as interações sociais, econômicas, políticas e culturais que o sujeito letrado terá. E é curioso pensar que, se ninguém nasce sabendo ler e escrever, ninguém também nasce sabendo “ler literatura” e interpretar um livro. E mais: é notável que nem todo mundo que leu na escola se tornou leitor na vida. Talvez, infelizmente, tenha virado apenas um “leidor”.
Ao considerar toda a complexidade do ato de ler é que entendo a importância capital do projeto das oficinas literárias dos ônibus-biblioteca, uma parceria da Libre – Liga Brasileira de Editoras - com a Prefeitura Municipal de São Paulo. As oficinas se revelam todas excelentes oportunidades para ampliarmos as práticas de letramento para as crianças (e, de repente, até adultos) que nos procuram durante os horários em que estamos junto aos ônibus-biblioteca. Sabemos que, nas periferias das grandes cidades, poucas crianças mantêm relações permanentes com livros. E, mesmo que tenham acesso e tomem livros emprestados, existe a possibilidade de o processo de leitura que vivenciam na escola não ser devidamente trabalhado (carregamos conosco uma outra ideia romântica: a de que leitura é processo autodidata e não cabe técnica ou teoria em seus domínios).
Quero dar uma sugestão. Várias brincadeiras, jogos e desafios podem ser usados em práticas de letramento. Se durante as aulas nas escolas as crianças se veem enquadradas em horários fechados, currículos a serem cumpridos e metodologias já estabelecidas, uma oportunidade fora do ambiente escolar torna-se muito valiosa para que possam dar um passo a mais no desenvolvimento da capacidade crítica de leitura. Por isso é que, como escritor, entendo as oficinas literárias como uma possibilidade de se reforçar individualmente o crescimento humano das crianças, adolescentes e adultos por meio das atividades levadas em cada encontro nos ônibus-biblioteca. Nenhum leitor crítico nasce pronto. Aliás, nenhum leitor nasce pronto, como falarei a seguir.
O letramento literário é uma prática social e os profissionais do mundo dos livros são também agentes sociais, uma vez que trabalham com um bem simbólico que atinge diretamente a vida de várias pessoas. E há coisas simples que podemos fazer e que serão fundamentais para um futuro bom leitor. Que tal mostrar alguns livros, perceber suas diferenças, descobrir o que atrai a leitura, antes mesmo de ela começar? O que atrairá o leitor? Será a capa? Serão as ilustrações? Será quem escreveu? E se há um mesmo livro com capas diferentes, o que será que cada capa quis representar? E a orelha? Pra que serve? Será que tem algo curioso sobre o livro na orelha? Poucas vezes se faz este tipo de introdução à leitura com as crianças. Sem querer, partimos do princípio de que todas têm tanta familiaridade com os livros, que não precisam ser estimuladas. E quando se parte para o ato de se contar uma história, é igualmente importante percebermos se as crianças ficaram devidamente seduzidas pela leitura e se conseguiram se concentrar na mesma. Quanto ao momento de interpretar (caso haja um), será que conseguimos notar os recursos interpretativos que as crianças já desenvolveram? Ou será que elas apenas concordam conosco o tempo todo porque se acostumaram a dizer “sim, entendi”? Será que após a interpretação, seria possível criar um outro final para o livro? Criar um novo personagem? E como isso se daria? Por escrito? Desenhado? Representado em um jogo dramático? E quais outros livros são parecidos com aquele, caso a criança queira levar para casa uma obra de mesmo gênero?
No parágrafo anterior, quis apenas dar um exemplo básico de como podemos trabalhar um livro com uma criança. As possibilidades são tantas quanto são os arranjos entre os sujeitos. Quando uma criança, mesmo no espaço de tempo de uma oficina literária, percebe que há outras formas de se ler e que o objeto livro oferece mais do que simplesmente uma historinha para quando não estiver vendo desenho animado na TV, pode ter certeza de que aquele momento foi mesmo bem aproveitado. Algumas das melhores lembranças da leitura em nossa infância foram de um livro apresentado de forma prazerosa e significativa. Ao começarmos a perceber que existem mais coisas dentro de um livro do que palavras escritas e desenhos, começamos a descobrir que literatura é algo bem além do que nos foi mostrado. E se ninguém nasce sabendo ler literatura, não nos esqueçamos que vamos ler, quando adultos, da maneira como nos foi ensinado.

[1] É possível que Mary KATO tenha sido quem aportuguesou o termo para nossa língua, em meados dos anos 80, em seu livro No Mundo da Escrita: uma perspectiva psicolingüística. Mas foi Ângela KLEIMAN (1995), na obra Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita, que publicou um livro contendo “letramento” no título.
FOTO: Oficina literária com atividade de letramento pós leitura de conto. Jardim Iguatemi - Zona Leste de São Paulo. 2009.

21/01/2010

O MESTRE CUCA FRESCA: RECEITAS DIVERTIDAS PARA GENTE FELIZ


Este livro foi lançado este mês. Nele, pretendi trazer, com uma linguagem leve e bem humorada, receitas interessantes, práticas e curiosas, ao mesmo tempo em que ofereci informações sobre alimentos - suas origens, nutrientes e curiosidades.

São 46 receitas divididas em tópicos: "Para começar o dia", "Saladas e Molhos", "Sucos e Vitaminas", "Pratos Principais", "Acompanhamentos", "Na hora do lanche", "Sobremesas", "Sopas e Caldos", "Antes de Dormir". Há ainda as seções "Vou lhe dar uma colher de chá", "Cuidando dos Alimentos", "À moda do escritor". Um poema, intitulado "Para abrir o apetite" dá início ao livro, seguindo um texto denominado "Na cozinha do mago".

Algumas receitas eu considero bastante curiosas e instigantes, como "Doce de jiló" e "Polenta de mamão".
No livro, o leitor aprende, por exemplo, como fazer uma pequena horta de ervas (inclusive no apartamento), entende os diferentes tipos de creme de leite e o que é o tal "maple syrup". Dentre as explicações curiosas, estão a do surgimento de determinados pratos como a "Caesar salad" e o "Petit gâteau"...

O livro se destina a leitores de todas as faixas etárias e busca ser um estimulador para a criatividade e ousadia na cozinha, aliadas a opções mais saudáveis de alimentos.

16/01/2010

COMENTÁRIOS SOBRE O PRÉ-LEITOR E A EDUCAÇÃO DO ATO DE LER


O texto de minha autoria "Comentários sobre o pré-leitor e a educação do ato de ler" saiu na coluna de minha amiga Sueli Bortolin, no site OFAJ. Nele, eu abordo a divisão que comumente se faz sobre a leitura, como é o processo de leitura e a relação da criança com o livro de zero a 6 anos e deixo algumas sugestões sobre como trabalhar a literatura com crianças tão pequenas.