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24/02/2010

23/02/2010

CONTOS CUMULATIVOS

Dois excelentes exemplos de contos cumulativos...




19/02/2010

COMO (NÃO) FORMAR LEITOR



Depois de ter lido o texto acima, veja se concorda comigo...
Vou em defesa de "Iracema", "Senhora" e dos outros livros... mas concordo com o raciocínio geral do Zuenir. Sim, acho que os alunos do ensino médio não têm preparo para digerirem, por si mesmos, os livros mencionados. Eles precisam de orientação do professor, de estímulo, de muitos elementos que ajudem a tornar a leitura dos títulos citados uma leitura prazerosa. Do contrário, sairão odiando os autores, a disciplina Literatura (aversão esta bastante comum) e o professor. E, dali em diante, os estragos podem ser irreparáveis: o preconceito contra a literatura nacional pode ser tamanho que jamais ousarão pegar outro de nossos clássicos.
A escola não consegue concorrer com computador, internet, jogos virtuais, cinema em 3D, viagens para o exterior. Isso é verdade (pelo menos para a classe média, média alta e alta). E, ainda por cima, conteúdos são despejados de maneira desconexa sobre os alunos, esperando que eles façam o melhor percurso possível...
Mas daí a desqualificar os livros citados, sobretudo os de José de Alencar, não acho justo. "Senhora" e "Iracema" são excelentes exemplares de dois momentos do grande autor cearense: o romance social urbano e o romance indianista. Há talento refletido em ambas as obras. Há estilo, há pesquisa, há reflexos de uma época. O que não se pode é reduzi-las aos quadros de análise histórica e estilística dos estilos de época - uma forma que engessa toda possibilidade de fruição do prazer da leitura.
Está aí um desafio e tanto aos professores e à escola: o que fazer com a literatura brasileira e como estimular a meninada à leitura...

13/02/2010

NO PAÍS EM QUE CRIANÇA VIRA MADRINHA DE BATERIA...


Tem uma coisa errada nisso. Claro que tem.
No início, todo mundo comentou. Agora, parece que se conformou. Até esqueceu. A mídia só faz a cobertura dos desfiles.
A gente tenta racionalizar: criança não deve ser exposta dessa forma, exercendo uma função que tradicionalmente tem relação com sensualidade e erotismo.
Ainda mais uma menina de sete anos!
Ainda mais em frente a uma escola de samba, cujo desfile será exibido para não sei quantos países!
Logo em um mundo em que a coisa mais fácil que existe é roubo e reprodução ilegal de imagens. Se fosse em outro planeta, mas no nosso a coisa anda complicada.
É, tem isso tudo.
Mas tem algo a mais errado. Algo que não foi racionalizado, que não se trouxe à consciência. Agora tento trazer.
Pensei aqui com meus botões junguianos qual seria essa coisa. E não é que está no próprio nome? É tão óbvio: muitos contos de fadas têm.
Pronto, vamos lá: criança não deve ser madrinha de nada. Ainda não é mãe (madrinha é godmother, em inglês), ainda não é mulher adulta. A responsabilidade e a visibilidade que lhe impõem são destruidoras. É como criar um teatro mundial, soltar um ser humano de sete anos no palco e dizer: agora, atue! (Jung, você faz falta como pão na cozinha psicológica de nosso povo!)
Criança, no máximo, é afilhada. Só vira outra coisa no mundo da imaginação, da leitura prazerosa. E desfile na Marquês de Sapucaí não é conto de fadas. E o que se lê na avenida é semiótico demais para olhos ingênuos.
Parece que é só diversão. Parece. Mas não é.
Uma menina madrinha abre mais senões daqui pra frente. Por exemplo: “menina rainha” (de um ritmo musical violento que hoje todo mundo defende), “menina madrasta” (sabe-se lá de quem), “menina-mãe” (e já são tantas!), “menina que é vendida no calçadão da praia”. Tantas meninas...
Queira o Deus de Jung que fique apenas como encanto e inocência a história dessa menina madrinha de bateria de uma grande escola de samba. Que ela saia ilesa, que ela saia criança dessa situação que o mundo dos adultos criou para ela. Que depois ela se debruce sobre seus livros de história e sonhe em ser uma princesa encantada e, quem sabe, invente uma roupa de papel crepom e glíter.
Apenas isso. E seja feliz.
Por enquanto – e para sempre – continuarei com Jung.

06/02/2010

AS PALAVRAS SEMEADAS

As rodas de oração, segundo o budismo tibetano, contêm mantras. Quando o fiel gira os cilindros, ele acredita que as palavras contidas nas preces se espalharão pelo mundo - sem limite de tempo e espaço - levadas pelos quatro ventos, trazendo harmonia e paz.
Eis uma bela metáfora do poder das palavras e do que podemos fazer com elas. Giramos os cilindros incessantemente.
Que palavras semeamos?

04/02/2010

"LER UM LIVRO DE VERDADE"



Quem me trouxe esta expressão hoje foi uma garota de quase 13 anos, moradora do bairro Vila Penteado, em São Paulo, durante a oficina que ministrei em um dos ônibus-biblioteca. Ela disse, após minha pergunta sobre um livro que tivesse marcado sua vida: “o primeiro livro de verdade que li... foi Odisseia, da Ruth Rocha”. E completou: “De verdade... quero dizer... foi o primeiro livro sem imagens que li.”
Ficou claro, pela sua expressão e discurso, que ela não estava desmerecendo os livros em que as imagens têm predomínio sobre o texto escrito. Ela estava justamente chamando a atenção para aquele grito silencioso de liberdade: a possibilidade criativa de desprender-se das imagens sobre o papel e navegar por si mesma, imersa no deleite das mil e uma possibilidades que o texto escrito lhe oferecia, como se o abandono dos livros com ilustrações simbolizasse um novo ciclo em sua vida: novas aventuras por vir. Eis a satisfação do sujeito equilibrado, que vivenciou todas as etapas do desenvolvimento – aquelas mesmas que os grandes nomes da psicanálise debateram, sobretudo Françoise Dolto, autora sobre a qual me debruço mais cuidadosamente nos últimos tempos. A criança que passou bem pelas fases de amadurecimento cognitivo e emocional pode ser tornar uma excelente leitora e produtora de textos. Colabora aqui, evidentemente, a estrutura familiar, mas acredito muitíssimo na profunda vontade e ímpeto do próprio sujeito.
Chega a ser inquietante: encontrar-se como sujeito também passa pela experiência aparentemente solitária de se ler um livro “só de texto escrito, sem ilustrações” – que desafio! E quantas imagens de sua própria verve aquela menina deve ter criado nos mirabolantes e saborosos percursos da augusta epopeia grega que escolhera como marco para sua trajetória de leitora mais amadurecida.
Ainda quero destacar duas outras participantes deste dia: uma menina de 9 anos, cujo livro paradigmático, até agora, foi Poliana, que ela leu aos sete, e uma moça de 22 cujo sonho é trabalhar de atendente em uma livraria (“um dia eu consigo, se Deus quiser”, ela me disse) e que lê muito. Seu livro marcante foi A cor da esperança, de Susan Madison, o qual ela alega não ter mais encontrado.
A gente tem mesmo uma relação muito afetuosa com os livros que passaram por nós e fizeram mais presença em nós (por motivos que não cabe aqui explicar).
Houve ainda a chegada de um garoto que mora nas vizinhanças do local em que o ônibus estaciona. Já o conhecia de outras idas minhas lá. No processo criativo de hoje, ele resolveu dar vida a alguns fantoches que ele mesmo fez, aos quais atribuiu poderes mágicos. Nada de bichos como temas, como os demais participantes fizeram.
O primeiro que ele criou foi um menino fantasma, invisível, mas com o fantástico poder do fogo. O menino já tinha morrido, mas continuava “do outro lado” ajudando as pessoas. Pelo que entendi, o personagem transmutava o fogo mediante sua vontade em benefício dos outros. Um herói. (Ah, o garoto tem vontade de ser bombeiro.)
Depois, ele ainda fez mais um fantoche, com o “poder das plantas” (provavelmente, poder de cura).
E ainda queria criar um herói para sua mãe, com algum poder que fosse útil para ela. E, quem sabe, um para seu pai... Até um para seu irmão, de dois anos, que acompanha a mãe nas atividades de diarista. De repente o irmãozinho gostaria de ter igualmente um poder mágico.
Esse "criador dos meninos superpoderosos" tem 9 anos e é um amante de livros. Já leu, por exemplo, os cinco primeiros do Harry Potter, e está aguardando os dois últimos chegarem às suas mãos.
Fico por aqui hoje: as histórias e os livros são terapêuticos. Não me canso de dizer que eles nos situam no mundo, e mais: nos ajudam a amenizar as agruras da vida e a encontrar saídas.
Viva a leitura! E viva Françoise Dolto!

***
Quer ler os mesmos livros que os leitores mencionaram hoje?
Aí vão eles:
MADISON, Susan. A Cor da Esperança. Planeta Editora.
PORTER, Eleanor H. Poliana. Ediouro.
ROCHA, Ruth. Ruth Rocha conta a Odisseia. Companhia das Letrinhas.
ROWLING, J. K. Harry Potter... (os sete livros da série). Editora Rocco.