412 livros, nenhum de sua autoria, nenhum direito autoral recebido
Como uma plateia exigente pôde se manter em silêncio desde o início das duas horas de projeção do filme até o último crédito de encerramento da sessão? (Sim, há públicos difíceis em São Paulo, todo mundo o diz.)
E houve um outro comportamento que me chamou a atenção: aplausos, discretos e dosados. Acho incômoda esta atitude, em se tratando de filmes, mas não a reprovo. Eu a compreendo, só não a endosso.
Fora esta ovação do público, segundos antes de as luzes do ambiente se acenderem para nossa despedida, tudo foi quietude – termo que, neste breve artigo, para mim representa mais do que silêncio. Uma inusitada quietude que me fez pensar e refletir sobre tanta coisa do filme e a partir dele – seu antes e seu depois.
Há tanta coisa que precisamos ver e ouvir nessa época conturbada que, talvez por isso, muitos dos espectadores – espíritas e não espíritas – se mantiveram respeitosamente – e eu diria mais, quase que religiosamente – em serenidade até o fim da exibição de Chico Xavier, que estreou hoje, quando o médium comemoraria 100 anos de nascimento.
Eu poderia ter começado estes comentários falando da técnica, do enredo, dos atores, da escolha da montagem... mas preferi simplesmente comentar o público e sua postura. E acredito que aqui já digo algo sobre esta produção de alta qualidade visual, sonora e dramática.
Os créditos se adiantavam na tela enquanto trechos da clássica participação de Chico no Pinga Fogo, da Tupi, eram mostrados, finalizando com o momento em que o médium pediu para fazer a oração que aprendera com sua mãe, o Pai Nosso. Neste exato momento, eu me senti parte da metalinguagem: éramos todos parte do público daquele programa dos anos 70, naquela mesma noite que marcou a TV brasileira, mas também éramos sujeitos do século XXI, em busca de conhecimento, prazer estético e – quiçá - lenitivo. Tudo correu como se tivesse sido preparado há décadas, daquele jeito, com aquela mise-en-scène, naquele cinema – e em todos os outros do país, no mesmo horário.
E até a saída da sala de exibição, quase nenhuma palavra se ouviu.
O filme merece ser visto. Precisa ser visto, mas sem que se creia que a vida de Chico Xavier esteja toda lá. Não. Naquelas duas horas, está apenas uma infinitesimal porção de sua existência. Mas que porção maravilhosa esta, se todos pudessem – algum dia – vivenciá-la como um remédio em conta-gotas que, por um lado cura e, por outro, esclarece.
(Adriano Messias)
Assista ao trailer:
Fotos do filme:
Cartaz do filme:
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