(saiu na Rede Cultura Infância - http://www.culturainfancia.com.br/)
Esta é a carta resumida da professora de língua portuguesa Denise Vilardo, do município do Rio.
“Caríssimos e íssimas,
Começo nesse nosso espaço fazendo uma denúncia, e contando com esse valoroso grupo para me ajudar a divulgar o que vem acontecendo com as escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro.
(...)
Apesar de todos os avanços no campo administrativo que estão sendo realizados nessa gestão, a orientação pedagógica está uma verdadeira barafunda!
Dentre as inúmeras propostas de "salvação" que a SME/RJ anda apresentando aos professores, de maneira absolutamente arbitrária, está uma cartilha, baseada no método fônico ou fonético - muito utilizado nos anos 50/60, e que é condenado por todos o s estudiosos do assunto, desde a década de 80.
As cartilhas chegaram para serem distribuídas para as escolas cujos alunos têm dificuldade na aprendizagem da leitura. É um projeto caro, encomendado a um Instituto chamado Alfa e Beto. Chama-se "Aprender a ler" e tem um livro suplementar, com pseudohistórias para os alunos.
Com essa cartilha, pretende-se alfabetizar, finalmente, as crianças... a justificativa é que, com os métodos anteriores, as crianças não obtiveram sucesso. Posso afirmar que a metodologia do ensino de alfabetização que era orientada aos professores nunca chegou a ser implantada efetivamente no nosso município - por motivos políticos.
(...)
Retrocedemos 20 anos no pensamento pedagógico dessa Rede.
Algumas outras propostas de salvação do ensino na Rede Pública, são, ainda, a volta da 2ª época e dos deveres de casa...
Voltando à cartilha de alfabetização, envio um dos textos para vocês verem, com algumas observações iniciais.
Minha chinela amarela
"Olá, eu sou o Charles.
Eis a minha chinela.
Minha chinela é amarela.
Eu chamo minha chinela de Chaninha!
Chaninha vive no armário
De manhã, Chaninha sai do armário e vem para mim.
E Chaninha vem me ver, cheia de charme!
Eu saio ao sol, eu e a minha chinela...
Eu saio na rua...
Eu e a minha chinela.
Eu e a minha Chaninha! Lá vamos nós!
Às vezes, eu suo muito.
Eu suo na Chaninha.
Aí, ela cheira mal!
Uuuuu! Ela cheira a chulé!
Se dá chulé na Chaninha, mamãe leva e lava.
Mamãe lavou, lavou e a Chaninha furou.
Hum, a chinela é cheirosa afinal!
Chaninha é velha.
Mesmo assim ela é maravilhosa! "
1 - Qualquer professor de Língua Portuguesa pode atestar que isso acima é quase um não-texto, porque possui débeis elementos básicos de coesão, e baixíssimo nível de coerência. São quase frases soltas;
2 - costumamos dizer que esse tipo de não-texto imbeciliza os alunos;
3 - é também inadequado para a faixa etária a que está endereçado;
4 - não utilizamos chinelas no Rio de Janeiro;
5 - Charles é um nome, ah, digamos... não brasileiro;
6 - e Chaninha, na minha terra é... vocês sabem o que significa.
Sou profª da Rede Municipal há 32 anos e nunca vivenciei nada semelhante. Nunca a SME foi tão retrógrada, com atitudes tão conservadoras e tão inconsequente em seus atos.
(...)
Pra terminar, outra "história" tirada da cartilha:
Zé e Zuza
"Zé amola seu mano Zuza.
- Ei, Zuza zonzo!
- Não amola, Zé!
Uma manhã, uma luz iluminou Zuza.
- O Zé não me amola mais!
Zuza assou uma massa de sal numa noz.
- Uma noz, mano Zuza! Eu amo noz! Ulalá!
E zás!
Ai, ai, ai!
Noz com sal?
Zuza amolou o Zé, ou não?
O Zuza não amolou.
- Amo noz! amo sal! Noz e sal, uau! Amei!
Ué, nem o sal na noz amola o Zé!
- Ô, mano Zé lelé!
- Ê, miolo mole!"
Parece sacanagem? E é!!! Sacanagem com os meninos e meninas das escolas públicas municipais do Rio de Janeiro.
Obrigada pela atenção
Denise Vilardo"
********************************************
A carta foi postada em 18/03/2010 no site
http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=22118&pag=1&order=
Esta é a carta resumida da professora de língua portuguesa Denise Vilardo, do município do Rio.
“Caríssimos e íssimas,
Começo nesse nosso espaço fazendo uma denúncia, e contando com esse valoroso grupo para me ajudar a divulgar o que vem acontecendo com as escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro.
(...)
Apesar de todos os avanços no campo administrativo que estão sendo realizados nessa gestão, a orientação pedagógica está uma verdadeira barafunda!
Dentre as inúmeras propostas de "salvação" que a SME/RJ anda apresentando aos professores, de maneira absolutamente arbitrária, está uma cartilha, baseada no método fônico ou fonético - muito utilizado nos anos 50/60, e que é condenado por todos o s estudiosos do assunto, desde a década de 80.
As cartilhas chegaram para serem distribuídas para as escolas cujos alunos têm dificuldade na aprendizagem da leitura. É um projeto caro, encomendado a um Instituto chamado Alfa e Beto. Chama-se "Aprender a ler" e tem um livro suplementar, com pseudohistórias para os alunos.
Com essa cartilha, pretende-se alfabetizar, finalmente, as crianças... a justificativa é que, com os métodos anteriores, as crianças não obtiveram sucesso. Posso afirmar que a metodologia do ensino de alfabetização que era orientada aos professores nunca chegou a ser implantada efetivamente no nosso município - por motivos políticos.
(...)
Retrocedemos 20 anos no pensamento pedagógico dessa Rede.
Algumas outras propostas de salvação do ensino na Rede Pública, são, ainda, a volta da 2ª época e dos deveres de casa...
Voltando à cartilha de alfabetização, envio um dos textos para vocês verem, com algumas observações iniciais.
Minha chinela amarela
"Olá, eu sou o Charles.
Eis a minha chinela.
Minha chinela é amarela.
Eu chamo minha chinela de Chaninha!
Chaninha vive no armário
De manhã, Chaninha sai do armário e vem para mim.
E Chaninha vem me ver, cheia de charme!
Eu saio ao sol, eu e a minha chinela...
Eu saio na rua...
Eu e a minha chinela.
Eu e a minha Chaninha! Lá vamos nós!
Às vezes, eu suo muito.
Eu suo na Chaninha.
Aí, ela cheira mal!
Uuuuu! Ela cheira a chulé!
Se dá chulé na Chaninha, mamãe leva e lava.
Mamãe lavou, lavou e a Chaninha furou.
Hum, a chinela é cheirosa afinal!
Chaninha é velha.
Mesmo assim ela é maravilhosa! "
1 - Qualquer professor de Língua Portuguesa pode atestar que isso acima é quase um não-texto, porque possui débeis elementos básicos de coesão, e baixíssimo nível de coerência. São quase frases soltas;
2 - costumamos dizer que esse tipo de não-texto imbeciliza os alunos;
3 - é também inadequado para a faixa etária a que está endereçado;
4 - não utilizamos chinelas no Rio de Janeiro;
5 - Charles é um nome, ah, digamos... não brasileiro;
6 - e Chaninha, na minha terra é... vocês sabem o que significa.
Sou profª da Rede Municipal há 32 anos e nunca vivenciei nada semelhante. Nunca a SME foi tão retrógrada, com atitudes tão conservadoras e tão inconsequente em seus atos.
(...)
Pra terminar, outra "história" tirada da cartilha:
Zé e Zuza
"Zé amola seu mano Zuza.
- Ei, Zuza zonzo!
- Não amola, Zé!
Uma manhã, uma luz iluminou Zuza.
- O Zé não me amola mais!
Zuza assou uma massa de sal numa noz.
- Uma noz, mano Zuza! Eu amo noz! Ulalá!
E zás!
Ai, ai, ai!
Noz com sal?
Zuza amolou o Zé, ou não?
O Zuza não amolou.
- Amo noz! amo sal! Noz e sal, uau! Amei!
Ué, nem o sal na noz amola o Zé!
- Ô, mano Zé lelé!
- Ê, miolo mole!"
Parece sacanagem? E é!!! Sacanagem com os meninos e meninas das escolas públicas municipais do Rio de Janeiro.
Obrigada pela atenção
Denise Vilardo"
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A carta foi postada em 18/03/2010 no site
http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=22118&pag=1&order=
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