Ontem, fiz mais uma oficina literária a partir do querido e sorridente livro "O Elefante Infante", um forte colosso que o Rudyard Kipling deixou para o mundo. As crianças correram à mesa de atividades, malgrado o calor. Uma sombra fresca, quase como a de uma savana africana margeada por árvores-da-febre, propiciou o alívio, junto ao vento, ora brando, ora brisa.
A técnica que escolhi foi "ler o livro" por meio de gravuras que eu mesmo fiz em papéis cartonados, mostrando, uma a uma, passagens do belo conto. Em seguida, falamos sobre elefantes, sobre Rudyard, sobre o motivo de ele ter feito aquela história, e para quem ele fez (sua filha muito doente que acabou morrendo de um problema pulmonar).
Da história, o pulo para dentro do livro: suas gravuras ressaltavam elefantes vermelhos. Graça e leveza.
A curiosidade de uma das meninas participantes:
- Por que um livro em três colunas paralelas, cada coluna de uma cor?
- Ah... mas é um livro trilíngue. - expliquei...
Crianças da França, de Moçambique e da Austrália conseguiriam ler perfeitamente aquele livro. Portas. As línguas são portas, as palavras são as folhas secas que entram quando as abrimos, outonais, festivais.
Daí surgiu a vontade de estruturar um elefante. Colocar de dentro para forma um paquiderme. Desenhá-lo. Delineá-lo e dividi-lo em tantos fragmentos quantos seriam os retalhos alinhavados que dão forma e fruto às nossas vidas. Somos deliciosamente uma colcha de retalhos em fuxico - chita e chitão -, flores grandes e escancaradas, boiando sobre a margem do grande rio Limpopo.
Cada elefante foi embora com seu dono.
- E quando você volta?
- Ah, eu volto um dia, de repente... Mas se não, virá outra pessoa, com outro bicho, ou talvez para falar de estrelas, ou brincar de paginar a vida.
Ressalto o menino Jackson, 9 anos, ainda incapaz de ler, mas muito alegre, conversador, bom papo... Carregava dentro da mochila um saco com pasteizinhos de feira, aqueles pastéis-de-vento, alguns de brisa suave, que a gente compra pra tomar com cafezinho forte à tarde. Pois não é que o tal menino queria que eu levasse o saco de pastéis para casa?
Quando crianças, somos generosos. Crescemos e nos esquecemos da espontaneidade, da pureza, do momento presente - que é o bom.
Os pastéis ficaram com ele, junto ao elefante, junto ao porta-retratos, junto às revistas que ganhou para tentar, mais tarde - quem sabe... - ler. E ler muito.
Adriano, acabo de ver.
ResponderExcluirQue coisa linda, gostei do "colosso", isto mesmo que é o livro. Em vez de fazer livros em penca para somente inscrever em programas governamentais, prefiro o livro "colosso", de via longa, vida eterna.
Este elefante é uma graça de Deus. E existe até o deus indiano elefante.
Adorei também a reação das crianças, o menino com os pastéis de vento. Dá uma história, que podemos publicar. Passo-lhe a idéia. Para a Musa.
Quero reproduzir por aí este seu post.