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06/03/2010

ESCOLA ADOTOU LIVROS COM PALAVRÕES



Da Folha Online
01/03/2010 - 16h12

Escola adota livro com palavrões e causa polêmica em Campo Grande (MS)


Um livro de memórias escrito por um adolescente e adotado por uma tradicional escola de Campo Grande (MS) para crianças de dez anos de idade vem gerando polêmica entre pais de alunos e educadores e se tornou tema de discursos acalorados na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.

O motivo são palavrões ("porra", "merda", "caralho", entre outros) e expressões tidas pelos críticos como "preconceituosas" e "inadequadas" presentes nas pouco mais de 200 páginas de "Dia 4", escrito por Vithor Torres, 16, um aluno da CNEC (Campanha Nacional das Escolas da Comunidade) Oliva Enciso, mesma escola onde surgiu a polêmica.

Escrita em primeira pessoa, a obra relata impressões do autor ao longo de uma viagem de ônibus entre Campo Grande e São Paulo. Os trechos polêmicos, em geral, são comentários a respeito da roupa ou do comportamento de outros passageiros que seguiam viagem.

"(...) Até o mais idiota dos seres consegue reconhecer uma prostituta. No caso eram duas. Como sabia que elas eram putas? Muito simples. Uma "profissional do sexo' se veste apenas de duas formas: extravagantemente ou quase sem roupa", diz um trecho do livro.

A publicitária Ângela Gouveia disse à Folha que se surpreendeu ao folhear o livro que a sobrinha de dez anos iria usar na escola. "Não é falso moralismo nem hipocrisia ou puritanismo de minha parte. Só não vejo onde isso pode agregar valores às crianças em sua formação."

O deputado Marquinhos Trad (PMDB) discutiu o tema no plenário da Assembleia Legislativa e defendeu que o caso seja levado como denúncia à comissão de educação da Congresso Nacional. Em entrevista à Folha, se disse "constrangido". "Se não fizermos nada, o próximo livro de pré-alfabetização será o da Bruna Surfistinha."

Outro deputado, Professor Rinaldo (PSDB), inseriu o livro no "contexto da deturpação mundial". "O mundo caminha para o caos. É homem querendo casar com homem, aborto, e agora vem um livro como este para nossas crianças. Ninguém respeita mais ninguém."


A escola emitiu nota na qual disse que o livro não será objeto de uma "leitura irresponsável, solta e descontextualizada". "A linguagem do texto do autor flui naturalmente, e em alguns momentos o narrador extravasa toda a sua frustração ante os problemas pelos quais está passando", diz a nota. "Daí registra-se, em determinados momentos, alguns xingamentos ou palavras vulgares colocados no texto."

À Folha, o autor disse que não "tinha noção" do impacto que seu livro teria. "Muita gente criticou sem ler. Preferiram destacar frases soltas e fora do contexto. Mas não me abalo. Quero continuar escrevendo."

Enquanto finaliza um novo romance, Torres agora prepara uma até então inimaginável segundo edição de "Dia 4" --a primeira, com 250 exemplares, teve 25% do custo de impressão bancado por doações de pais de alunos. "Com a polêmica, muita gente me procurou para adquirir uma cópia e me incentivando a continuar."

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Palavrões em livros infantojuvenis

Há uma linha delicada entre o estético e o mau gosto? Entre o pedagógico e o não pedagógico?
Creio que sim.
O principal argumento contra o uso de palavrões em livros infantojuvenis é a faixa etária à qual as obras adotadas se destinam. Claro, porque a criança é ser em formação sob a responsabilidade de adultos, e a escola é um ambiente de crescimento, de fortalecimento do caráter. Todo mundo sabe disso.
Mas, dirão muitos, em contraponto: presidente da República fala palavrão, apresentadora de programa de TV fala palavrão, personagem de histórias em quadrinhos infantis fala palavrão... Pais e mães costumam falar palavrões. E por aí vai...
O excesso de pudores em relação a um livro infantojuvenil contendo palavrões é um excelente estímulo para as vendas. Boa parte das pessoas terá a curiosidade de saber quais palavrões foram censurados.
Minha grande indagação não é necessariamente em relação à presença ou ausência de palavrões em um livro infantojuvenil. Se não é conveniente que haja palavrões, então que os tais livros sejam substituídos. Pronto.
O que eu quero ir mais longe: por que os adultos ficam tão cheios de achaques com assuntos como este – um livro que contém palavrões -, mas, em oposição, ficam bem pouco preocupados com o que seus filhos estão “aprendendo” e apreendendo em certos jogos eletrônicos, sites da internet, filmes, revistas, grupos de “amigos”?
Muitos pais da classe média padrão costumam deixar os filhos ao deus-dará durante o dia todo. Estes, por sua vez, se esbaldam: compensam a falta de estrutura familiar em todos os tipos de aventuras. E palavrões costumam ser fichinha perto das notícias que de vez em sempre surgem nos jornais.
É como sempre tem sido feito: conserta-se o parafuso, mas a engrenagem toda está deficiente.
Dá vontade de falar um palavrão: pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico!!!

***
A enorme palavra acima é um termo médico: uma junção de várias síndromes.

2 comentários:

  1. Adriano, adorei suas considerações!
    Sou pedagoga e campograndense. Atualmente moro em Goiânia, onde atuo como coordenadora pedagógica em uma escola particular. Realmente acho que foi tudo um grande exagero, pois toda essa "notícia" alimentou a curiosidade de muitas pessoas sobre o conteúdo do livro. Apesar de ter achado um exagero, também acredito que a escola foi infeliz na escolha, visto que, no nosso país temos tantos autores maravilhosos para serem lidos, inclusive no MS. Acredito sim, numa educação que busca trabalhar valores e resgatar o bom senso que há tanto tempo vem sendo esquecido por muitos, inclusive famílias. Me pergunto e te pergunto: de que adianta fazer todo esse alarme em torno de um livro, se a TV tem mostrado coisas bem piores e lamentáveis, como é o exemplo do tal BigBrother, que a maioria dos nossos jovens assiste e liga para votar no "melhor"!!!
    Penso que as famílias devem sim se preocupar com o que os filhos lêem, mas devem, acima de tudo, se preocupar com o que vêem, assitem e fazem...
    Abraços.
    Giovana Scavassa
    (gostei muito do blog!)

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  2. Obrigado, Giovana. Muito lúcida a sua argumentação. Volte sempre!

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